CAMPANHA SALARIAL DO SETOR PRIVADO: ONDE ESTÁ A RESPONSABILIDADE DO PATRONAL DO TI COM A MOBILIDADE URBANA?

CAMPANHA SALARIAL DO SETOR PRIVADO: ONDE ESTÁ A RESPONSABILIDADE DO PATRONAL DO TI COM A MOBILIDADE URBANA?

 

O SINDPDSC está publicando matérias diárias sobre a pauta de reivindicações dos trabalhadores do setor privado. Cada dia uma clausula será comentada. Acompanhe diariamente nosso site. Opine em nosso e-mail!

No Brasil impera uma lógica de transporte urbano que beneficia somente os empresários e não os trabalhadores. Em primeiro lugar, o sistema de transporte público foi pensado apenas para transportar os trabalhadores da casa para o trabalho e do trabalho para a casa e mesmo assim de forma muito precária. As linhas de ônibus são sempre mais abundantes nos horários de entrada e saída da maioria das empresas (dito horário comercial). Nos finais de semana ou períodos noturnos os horários são sempre mais escassos desestimulando o lazer.

Em segundo lugar, o transporte público na verdade não é público, mas sim um monopólio privado operado e comandado por empresas privadas. Desse modo, impera a lógica produtivista: quanto mais trabalhador por ônibus, mais a catraca roda e mais os empresários do transporte lucram, mesmo que isso seja desconfortável para quem é transportado. Quanto aos demais empresários, os aborrecimentos dos trabalhadores com o caos do transporte público pouco importa: o tempo gasto no trajeto não é reconhecido como jornada de trabalho para fins de remuneração salarial, se atrasa o patrão pode descontar e a lei também não responsabiliza os patrões a viabilizarem e financiarem todo o transporte de seus trabalhadores para ao menos trabalhar e voltar para casa.

Em terceiro lugar, no Brasil impera uma lógica atrasada de desenvolvimento que pensa apenas no imediato. Diante desse tipo de transporte público que maltrata o trabalhador a única “alternativa” oferecida são os financiamentos para o transporte individual (carro e moto). Assim, as ruas e avenidas não suportam o entupimento das vias. Pesquisa recente mostrou que em São Paulo o transporte individual ocupa 78% do espaço das vias para transportar apenas 28% da população, enquanto os ônibus ocupam 8% das vias e transportam 68% da população. Em cidades como Blumenau, Criciúma e Florianópolis o princípio é o mesmo.

Toda essa lógica tem uma racionalidade econômica que beneficia somente os patrões e faz aumentar seus lucro. O caos do transporte público acaba sendo um grande negócio e muito lucrativo para todos os empresários. Lucram as automobilísticas que vendem carros e motos, lucram os bancos que fazem você se endividar, lucram as construtoras e empreiteiras com a construção sem parar de estradas, viadutos e túneis e lucram os especuladores imobiliários que jogam pra cima o preço dos terrenos e imóveis. Esses empresários, por sua vez, fazem movimentar o trabalho de outros empresários: o do aço, do concreto, do plástico, do software, do maquinário, das consultorias e etc.

As cidades ficam cada vez mais estressantes, dentro e fora da jornada de trabalho, e o pior é que trabalhamos feito loucos para sustentar tudo isso com nossos salários. O caos do transporte público nos faz perder em qualidade de vida e saúde. Perdemos em acesso a áreas públicas de lazer e sobem os preços dos aluguéis e moradias. Perde o meio ambiente com um volume enorme de lixo produzido (principalmente pela construção civil e a indústria) e com redes de saneamento que não suportam o adensamento populacional ou são secundarizadas.

Precisamos inverter a lógica disso tudo, onde são os trabalhadores que pagam a conta e não se beneficiam com nada. O transporte, na sociedade atual, é um benefício acima de tudo para os empresários. Lembre-se que quando saímos de casa para trabalhar quem lucra com nosso trabalho é o patrão. Quando saímos de casa para passear, nos divertir ou viajar quem lucra também são as empresas. Quando saímos de casa para estudar quem lucra também é o empresário que tem uma mão de obra mais qualificada e produtiva.

Que os empresários assumam o vale transporte sem descontar do trabalhador é o mínimo que podem fazer para começarmos a mudar as coisas. Até agora os patrões se negaram a atender a clausula 6ª da pauta de reivindicações dos trabalhadores de TI. Vamos exigir que os empresários do TI atendam! É nosso direito!

CLÁUSULA 6a. VALE TRANSPORTE

As empresas entregarão o vale transporte aos trabalhadores que dela necessitem para o deslocamento ao trabalho, mensal ou quinzenalmente, sempre até o último dia útil do mês ou, da quinzena anterior.

Parágrafo único. O vale transporte será oferecido pela empresa sem desconto de valores por parte do empregado.